quinta-feira, 26 de maio de 2022

Operação em Campinas ‘quebra’ produção em cadeia de marcas de bebidas falsificadas


 


Operação em Campinas ‘quebra’ produção em cadeia de bebidas falsificadas

Segundo a ABRABE, apreensão foi uma das mais relevantes do Brasil nessa modalidade de crime de quebra de marcas e direitos de logos e imagens. 

Três pessoas foram presas durante a “Operação Aletheia”, deflagrada na quarta-feira (25/05/2022) contra o crime de falsificação de bebidas de diversas marcas e rótulos famosos. Foram cumpridos três mandados de prisão em residências de Campinas e outro em Sumaré. Cerca de 90 mil tampas falsificadas foram apreendidas, junto com rótulos e maquinário utilizado na falsificação. Segundo a Associação Brasileira de Bebidas (ABRABE), foi a apreensão mais relevante do Brasil até agora.

As prisões foram feitas por policiais da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic), através da 1ª Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Campinas, e dão continuidade às ações de combate à falsificação de bebidas.

As investigações já duravam um ano e estavam focadas em uma quadrilha que trabalhava em sistema de produção em cadeia, dividindo as tarefas e deixando responsáveis por uma parte da linha de produção. “Apenas em tampinhas, foram recolhidas 90 mil. E elas serviriam para 90 mil garrafas. Então, é uma apreensão bem expressiva. O alvo específico dessa operação foi voltado a trabalho de impressão e preparação de garrafas. Já tivemos várias pessoas presas e bebidas apreendidas. Salta aos olhos os equipamentos usados para automatizar e dar mais eficiência e agilidade ao processo de falsificação. Trata-se de um grupo profissionalizado nesse tipo de crime”, apontou o delegado José Glauco Ferreira, da 1ª DIG.

Os suspeitos vão responder por falsificação de marcas e patentes. Segundo Ferreira, os acusados alegaram que foram contratados para trabalhar na produção.

Prisões

Os acusados foram identificados nos bairros Jd. Bela Vista, CDHU Amarais e Padre Anchieta, em Campinas, e no Jd. São Lucas, em Sumaré. Em cada local funcionava uma etapa da falsificação da bebida.

No primeiro endereço, no Jd. Bela Vista, as tampas eram pintadas imitando-se as originais. No local, a polícia identificou tampas de gin, uísque, tequila e vodka.

No CDHU Amarais, as tampas, já pintadas, estavam sendo secadas em uma estufa apropriada. As tampas flagradas pelos agentes eram amarelas e serviriam para a falsificação de embalagens da bebida White Horse.

No terceiro imóvel, no Padre Anchieta, estavam maquinários para fazer a gravação das marcas nas tampas já produzidas. Também foram encontrados diversos moldes para impressão de rótulos de bebidas de marcas famosas.

Já em Sumaré, no Jd. São Luís, os policiais localizaram o estoque dos produtos falsificados: tampas, caixas das bebidas e adesivos de logomarcas a serem colados nas garrafas. Um dos adesivos era de um uísque que não existe no mercado e que foi inventado pelos falsificadores.

 

Todos os responsáveis das casas foram detidos e encaminhados à 1ª DIG de Campinas. Dois caminhões foram usados para retirar todo o material. Um representante da ABRABE acompanhou a apreensão e reconheceu a falsificação dos produtos. Segundo ele, a apreensão é uma das mais relevantes do Brasil até o momento.

A ABRABE acompanha esses casos e, segundo a entidade, o gasto para a falsificação desses produtos gira em torno de R$ 10 - entre impressão e adaptação de tampas. O lucro, nessa modalidade criminosa, torna-se muito alto, uma vez que as bebidas são comercializadas em torno de R$ 100 a garrafa.

O mercado em que circulam essas bebidas, aponta a ABRABE, são as redes sociais, onde elas são vendidas a preços reduzidos ou com descontos atrativos. Além disso, há grande circulação em festas universitárias de Campinas e de cidades próximas. A entidade chegou a localizar bebidas falsificadas fabricadas em Campinas e em outros estados do Brasil, que não foram revelados.

Riscos à saúde

As investigações se concentram agora em identificar o lugar onde as bebidas são envasadas. “A ‘Operação Aletheia’ dá continuidade às demais ações e apreensões que a 1ª DIG vem fazendo ao longo do tempo, uma vez que entende que o crime vai além da falsificação em si verificada, sendo também contra a saúde pública: pela produção precária e falta de higiene durante o envasamento de tais bebidas falsificadas, que depois são comercializadas sem pudor em bares, adegas, mercados e festas diversas”, apontou o delegado.

De acordo com a ABRABE é comum que garrafas de vodka recebam combustível de veículo, em alta concentração, e que as demais bebidas tenham altas doses de álcool cereal com corante.

O farmacêutico e pesquisador da Faculdade de Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Rafael Maza Barbosa, alerta sobre os impactos da ingestão desse tipo de produto. “Um dos grandes problemas relacionados às bebidas adulteradas é a presença do metanol. Com propriedades semelhantes ao etanol, o composto está presente em bebidas alcoólicas em porcentagens que podem variar de 4% a 48% e a ingestão de aproximadamente 15 ml do metanol pode provocar cegueira. Acima de 30 ml, pode ser fatal”, alerta.

“Outra adulteração que pode ser encontrada é a adição do iodo - principalmente em uísques - como corante. Neste caso, existe uma maneira bem simples para a detecção do iodo nas bebidas. Consiste na adição do produto adulterado em uma fatia de pão. O iodo reage com o amido presente no pão e produz uma coloração preta. É importante também ficar atento com o selo do IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] nas garrafas”, orienta.

Falsificação

 

De acordo com reportagem publicada em março pelo Correio Popular, a Região Metropolitana de Campinas (RMC) registrou em 2021 um prejuízo de R$ 26,1 bilhões com a sonegação fiscal, falsificação e contrabando de produtos, o que a coloca a RMC em 7º lugar no ranking nacional da pirataria. Dentre os produtos falsificados, as bebidas ocupam o segundo lugar no ranking.

Aletheia

O nome da Operação Aletheia faz referência a um personagem da mitologia grega que é associado à verdade. Ela é citada em uma das fábulas de Esopo, com a máxima de que algo falso pode, às vezes, começar com sucesso, no entanto, com o tempo, a verdade “Aletheia” prevalecerá.

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